Quando é suposto não existir nada oculto debaixo do sol. Quando tudo marcha numa rotina desgastante logo que o dia começa -ao acordar de manhã-, com o toque do relógio que está programado para repetir várias vezes o mesmo som. Quando o empurrar das horas carregam em si um peso; a cremalheira do vestido não fecha o retoque no cabelo fica sem jeito nenhum! Quando tudo parece vir abaixo: o mais importante é que o dinheiro não falte para comprar café e tabaco! Tudo é previsível na vida de uma cidadã do mundo; deste mundo quadrado, irreal... Pouco ou nada já me surpreende passando da maldade extrema até a bondade divina.
O que ainda me surpreende é a capacidade de pessoas muito fragilizadas em aceitar uma dádiva de vida, apenas um dia mais de cada vez! A força para lutar desesperadamente por esse pouco tempo que resta; a capacidade de aceitar com toda a resignação que o seu próprio corpo se transforme -mesmo que seja num farrapo-, mantendo um sorriso alegre , delicado e ainda ter palavras de alento para o vizinho que está sentindo o mesmo.
Surpreende-me e faz-me refletir: “e eu que estou aborrecida porque a cremalheira do vestido avariou”... coisa insignificante ao lado de uma vida que se apaga lenta e irremediavelmente. É assim a natureza humana: a mudança de atitude que obriga a ver o mundo com os olhos da tolerância, com a cor da eternidade e o desfrute de cada dia que passa como se não houvesse amanhã! Surpreende-me! Só me surpreenderia mais se alguém não se surpreendesse!
Maria João.
09-10-2013. In Desafios de Proesia.


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