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23 de outubro de 2015

"O incómodo"

Sinto-te! É difícil não sentir-te. Deixas-te marcas indeléveis em cada recanto: para sempre! Quero arrancar-te de mim, sei que pairas aqui, mas onde? Talvez nas palavras ousadas de um romance antigo, no jardim da varanda onde passamos tantas tardes de domingo, ou no aconchego da lareira onde queimamos os serões de inverno. O eco da tua voz ainda me estremece, o sabor dos teus beijos está latente em mim e a ferida que abriste no meu peito nunca sarou. Sinto-te e não consigo desapegar-me de ti, mesmo sabendo que amanhã quando abrir a janela, um raio de sol forçará o nosso adeus.

Adormeço e tu estás ao meu lado, desperto, voraz, sedutor, esperando que apague a luz... o teu toque delicado está a queimar-me. Num breve momento esquecemos as promesas de uma vida. É o ruído que só o silêncio da noite deixa ouvir. Adormeço e acordo; volto a adormecer e ainda estás presente em mim, a porta fechada, eu na cama... Medooooooo! Medoooooo!
Não quero estar aqui, quero que a justiça dos homens seja para todos, tanto sangue sucado, tanto ódio e maldade! Quero de volta todas às personagens perseguidas, um regresso ao presente para poder viver em paz.

Serei corajosa: vou reler-te a começar do fim!

@Faísca Maria (desafio publicado In "Arrebata-me com palavras - A tempestade")
22-10-2015
(Imagem da Internet do filme "deixa-me entrar")

18 de outubro de 2015

Só nós dois

Bateu à porta
Abriu, entrou
Furtou o sossego
Despertou alegrias

Gota a gota
Infiltrou-se aos poucos
Gota a gota
A vida acontece

Inesperada fortuna
Riqueza dos pobres
Num abraço apertado
Sentimento pleno
Chuva de beijos
A tormenta traz 
O sol apazigua

Desejo dos deuses 
Ordens dos homens
Sabedoria do povo 
Quem um dia não chorou
O adeus do desengano?
Quem um dia não cegou
Com a luz de uns olhos tristes?

Vejo-me em ti
Cego-me ao mundo
Ninguém mais importa
Só nós dois
Abrimos a nossa porta.

@Faísca Maria (texto)
11-7-2015
(Imagem da Internet)


10 de outubro de 2015

A Travessia

O meu corpo pede descanso. Estou exausta! De tanto, de pouco, de nada. Até a atmosfera parece incomodar-me. O meu corpo tem os teus sinais, está vazio de mim e só o cobre a noite que lentamente cai! Contigo aprendi, meu Mestre, o que é estar do lado errado da vida, o que é deixar de ter uma razão para sonhar... No infinito está escrito: "chegarás a outra margem, com o coração apertado, de olhos fechados".

Vejo-te de braços abertos, na outra margem. Quero chegar a ti! A distância é curta, o caminho frágil. Corre o rio de águas turbulentas com marcas de sangue e hediondez, sinal de progresso – dizem –, detritos hediondos que levam porcaria viva. Não respiro para não despertar em mim as náuseas do incómodo; não abro os olhos para não sentir o desequilíbrio da vertigem. O meu corpo está exausto, as pernas bamboleiam.

Na outra margem, os teus braços abertos esperam por mim! Sou um náufrago num mar espesso. Respiro sem querer, grito sem poder, anseio-te: és a minha salvação! Vens ao meu encontro, a tua mão escorrega na minha, o vento leva os meus soluços e apaga os meus gritos – levantei-me submersa em lama. Não me reconheces, não te reconheço! Não sei o que faço aqui. O meu corpo exausto de desejo... perdido no abraço de um estranho que apenas viveu em mim... Na minha eterna travessia...

@Faísca Maria (texto e imagem)
9-10-2015 – Desafio criativo da travessia.