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25 de abril de 2014

Acordemos antes que acabe o Abril...


...Sessenta, oitenta, cem. As notas vão passando pelos dedos de José...e o mês ainda não chegou ao fim! «Faça as contas e corte na despesa!» Foi o que lhe aconselhou o seu Gestor de Conta. No princípio era recebido no Banco, de braços abertos. Tudo prometia ser cor-de-rosa. Desde que sofreu vários "cortes" no salário, tinha que marcar dia e hora para negociar as dívidas.


...« Umas 500000 mil famílias já fizeram as contas e cortaram na despesa»...Quinhentas mil! Que raio de mentira repetida é esta? Nunca foi tão fácil comprar: nunca! Aquelas siglas no rodapé do contrato, pareciam pouca coisa, talvez alguma taxa insignificante. Logo conseguiria pagar, claro. Numa vida finita: ViVer é o que importa.

José começou a poupar...gastando. Rapidamente percebeu a diferença entre gastar menos e poupar. Ficou confuso...e contava uma a uma as notas de euros, muitas vezes, mas elas teimavam em não se multiplicar.

«Não se preocupe, José. Mandamos a Troika embora e depois Portugal entrará no Mercado». Qual mercado? O único mercado que lhe preocupava era o Mercado Municipal, onde reinava a carestia.

...«Trinta, quarenta, cinquenta» e ainda faltava comprar algumas coisas, e não esquecer que sem gasolina não iria longe. Estica-te, José...e aperta o cinto, mas não te afogues, sem oxigénio morres e os teus parasitas de estimação não sobreviverão sem ti.

....«Cinco, dez, vinte»....Tens governantes que nasceram em berço de ouro (pago pelos teus antepassados), trabalham para o povo, mas não se misturam com ele. Eles pensam que, mau, mau é não ter um carro topo de gama, por isso não esqueças de pedir fatura com o o número fiscal de contribuinte, entras no concurso e com um pouco de sorte os teus problemas ficarão redimidos.

Entretanto...mentem-nos repetidamente, José, até acreditarmos que é verdade: é só falácia! Vão todos aprender: nunca é é tarde! Ou chegarão ao ponto de ter que vender Portugal e os portugueses. Onde não há água há sede. Acordemos antes que acabe o Abril.

Basta de discursos serôdios, isentos de solidariedade...cheios de atitudes sonsas. Explicações inúteis para um povo que já nem reage a tanta falta de consideração ...
Acordemos antes que acabe o Abril!

©Maria João
24 de Abril de 2014. In Desafios de Proesia.

21 de abril de 2014

Hoje é dia...

Hoje é um dia especial,
por ventura popular.
De dia como uma aselha,
à noite, parto a ruar.

Desanda-me esse desejo,
quero muito, e não podendo...
sem o dom da ubiquidade,
acordo no mesmo lugar...

É a sina de um boémio,
rodar, sempre rodar.
Odeio quando me amas,
amo-te quando não queres.

Não marches de mim, neste dia,
tão santo e tão popular.
Faz o gosto ao Santo hoje,
não tenhas medo de amar!

© Maria João
12-06-2013. In Clube dos Proetas Vivos

Arraial de Santo António na Provectus - Faro

17 de abril de 2014

Simplesmente feliz?

Sem ti: não existo!
a vida fica-me turva
sem sentido,
os olhos: baços.

Sem ti: ver não é preciso,
mas se não te encontro:
Insisto!
Procuro-te em cada recanto vazio:
Eterna procura!

É questão de tempo: dizem!
Ou de modas, talvez.
Sem ti, ando às escuras,
por isso é que não desisto.
Nem de longe, nem de perto.
Olha bem: nem acerto!

Enxuga-me as lágrimas,
deslizam dentro de mim...
Por fora: capa e compostura.
Por dentro, nada sarou.
Ficou sede de justiça,
sonhos perdidos...
queridos.

Cansado de procurar
tudo aquilo que já tinha,
fui infeliz. Fui!
Só por não saber
ser feliz.

Eterna procura...
Sem nada ter perdido!
Ceguei por não saber ver
com os olhos dos
sentidos.

© Maria João FS
17-04-2014. In Desafios de Proesia.


http://memanal.wordpress.com/2012/05/11/are-you-okay/




8 de abril de 2014

O comboio parou na estação e ele saiu

"É aqui na próxima paragem."


Levantou-se, vestiu o casaco e equilibrou-se ao balanço do vaivém, sentia que estava quase a chegar. Instantes que se detêm no tempo. Imaginava a Glória com o seu vestido branco. O seu cheiro a jasmim. O seu sorriso brilhante e alegre...



— Sai na próxima? — Sim Não deixava de olhar para a janela."A porta nunca mais abre."Mais lhe valia estar sentado, mas queria ser o primeiro a sair. Ansiosamente segurou-se à porta e não deixou ninguém passar à frente.Tinha a bagagem cheia se sonhos, agora poderia respirar e finalmente descansar. Fez as viagens que queria fazer e conheceu mundo. A barba cresceu-lhe várias vezes.Muitos foram os solos que pisou, as comidas que degustou, os amores que deixou. Cada recanto visitado deixou-lhe um ensinamento: aprendeu a fumar coca, a dança do ventre, a beber tequila. Aprendeu que a saúde não é só física. Que o corpo pede o que os homens criticam. Que nada é tão importante que mereça o sofrimento. Que o dia pode ter mais de vinte e quatro horas, sempre que o homem quiser. Que o amor vem e vai, tal como o vento. Aprendeu a viver...



Agora só lhe resta sair na próxima estação, a próxima, a esperada...Só uns segundos faltam para abrir a porta...É só esperar que o comboio pare!...scrinch..scrinch...scrinch...Olhou para o chão, não fosse tropeçar nos degraus, eram dois, muito altos e as suas pernas já não se equilibravam tão bem como quando saiu de casa



— Boa tarde. Ninguém respondeu. — Boa tarde – repetiu.— Boa tardeeeeeeee....ouviu o seu eco! Chegou. Tudo à sua volta estava deserto. Nem viu a Glória, nem os amigos...ninguém esperou por ele. Ninguém...O vento soprou forte e levantou a poeira. O comboio parou. Talvez na estação errada. Na hora errada.Caiu, vencido pelo cansaço...Já nada era importante.A viagem chegou ao fim.


Maria João
08-04-2014. In Desafios de Proesia